Orpheu foi uma Revista Trimestral de Literatura publicada em Lisboa. Apenas teve dois números publicados, correspondentes aos primeiros dois trimestres de 1915, sendo o terceiro número cancelado devido a dificuldades de finaciamento. Apesar disso, a revista exerceu uma notável e duradoura influência: o seu vanguardismo inspirou movimentos literários subsequentes de renovação da literatura portuguesa. Mau grado o impacto negativo que Orpheu causou na crítica do seu tempo, a sua relevância advém de ter, efectivamente, introduzido em Portugal o movimento modernista, associando nesse projecto importantes nomes das letras e das artes do século XX, como Fernando Pessoa ou Mário de Sá-Carneiro.
Recepção de ORPHEU
A recepção de Orpheu não foi pacífica, bem pelo contrário, desencadeando uma controvérsia pública, que se propagou pela imprensa portuguesa da época. As críticas e comentários eram sobretudo jocosos, sendo os escritores ridicularizados e apontados como doidos varridos, sobretudo devido aos poemas «16», de Mário de Sá-Carneiro, e «Ode Triunfal», do heterónimoÁlvaro de Campos, alter ego de Fernando Pessoa. Aproveitando o escândalo que se gerara com o lançamento da revista [1], Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, que figuram como directores no seu segundo número, acentuam o seu carácter provocador e contrafactual, revelando nomes como Santa-Rita Pintor, artista plástico "futurista" e Ângelo de Lima, poeta marginal internado no manicómio de Rilhafoles desde 1900.Na carta que escreveu a Camilo Pessanha, então funcionário em Macau, Fernando Pessoa pedia-lhe autorização para inserir poemas dele, assumindo já a direcção de Orpheu', descreve a revista da seguinte forma:
Em Julho de 1915 Alfredo Guisado e António Ferro anunciavam publicamente o seu afastamento da revista, devido a divergências políticas com Fernando Pessoa; e Mário de Sá-Carneiro parte precipitadamente para Paris. Em Agosto informa Fernando Pessoa que o seu pai se recusava continuar o estatuto messenático que entretanto assumira, esfumando-se assim o projectado terceiro número de Orpheu.
No ano seguinte ocorreria o trágico suicídio de Mário de Sá-Carneiro e em 1918 morreriam também os pintores Amadeu de Souza-Cardoso, de quem Fernando Pessoa chegou a projectar inserir trabalhos no terceiro número de Orpheu, bem como Santa-Rita Pintor, que colaborou com quatro hors-texteSanta-Rita Pintor dirigiu o número único da revista para o segundo número da revista. Portugal Futurista, continuadora da tradição vanguardista, contrafactual e provocadora de Orpheu, publicando trabalhos dos seus mais notáveis colaboradores, designadamente Mário de Sá-Carneiro e Álvaro de Campos. Para alguns críticos, Portugal Futurista, revista de Santa-Rita Pintor publicada em Novembro de 1917 e apreendida de seguida pelas autoridades, seria a efectiva herdeira de Orpheu e o seu real terceiro número.
Orpheu marcou a história da literatura portuguesa do século XX, sendo considerada o marco inicial do modernismo em Portugal. Os protagonistas da revista ficaram conhecidos como «geração de Orpheu». Apenas doze anos depois, a importância desta publicação começaria a ser reconhecida pela «segunda geração modernista» nas páginas da revista Presença, publicada em Coimbra de 1927 a 1940 e que contou com nomes ilustres das letras portuguesas, como José Régio, Miguel Torga ou Vitorino Nemésio.
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